Ortopedista, Professor Universitário e Presidente da Sociedade Portuguesa do Ombro e Cotovelo.
Vive há cerca de um ano em Vila do Conde, mas o seu nome já é bem conhecido entre os especialistas de Ortopedia em Portugal e além-fronteiras. Professor universitário, clínico e investigador, Nuno Sevivas é uma referência na cirurgia do ombro e cotovelo e atualmente preside à Sociedade Portuguesa de Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Nesta entrevista ao Jornal de Vila do Conde, partilha connosco o seu percurso, os avanços da medicina e a paixão pela nova cidade que agora chama de casa.
Há quantos anos se dedica à medicina ortopédica e onde trabalha atualmente?
Dedico-me à medicina ortopédica há mais de 20 anos. Licenciei-me em Medicina em 2001, na Faculdade de Medicina do Porto e posteriormente especializei-me em Ortopedia.
Atualmente, sou Professor Auxiliar na Escola de Medicina da Universidade do Minho, onde também fiz o meu doutoramento (PhD). Paralelamente, exerço clínica no Trofa Saúde Hospital Braga Sul e no Centro Hospitalar do Médio Ave, onde coordeno as unidades dedicadas à patologia do ombro e cotovelo. Para além disso, assumo também a presidência da Sociedade Portuguesa de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SPOC) para o biénio 2025/26.
Vila do Conde tem alma. Aqui, tal como na minha terra de origem, em Trás-os-Montes, sente-se um orgulho genuíno em pertencer, em viver e cuidar da comunidade.” – Prof. Dr. Nuno Sevivas
O que o levou a escolher esta área tão específica da medicina?
Sempre me fascinou a forma como a ortopedia alia o raciocínio clínico à intervenção prática e imediata, devolvendo mobilidade e qualidade de vida aos doentes. Com o tempo, fui-me sentido atraído pela complexidade do ombro (a articulação mais móvel do corpo humano) e pelo funcionamento integrado do membro superior — articulações que exigem um conhecimento anatómico profundo e uma precisão cirúrgica muito elevada. Os desafios técnicos e científicos desta área motivaram-me a investir em formação nacional e internacional, com estágios em centros de referência em Paris, Boston, Lisboa e Nice.
Que doenças são mais comuns e por que estão a aumentar?
As patologias degenerativas, traumáticas e uma associação das duas etiologias anteriores são a causa da alta frequência das lesões neste segmento anatómico. Destacam-se as lesões da coifa dos rotadores, tendinopatias, fraturas, instabilidade e rigidez (os 2 polos opostos são igualemnte muito limitativos) do ombro e cotovelo. A razão? Um misto de envelhecimento populacional, sedentarismo e prática desportiva sem acompanhamento técnico adequado.
Há formas simples de as prevenir?
A prevenção é essencial e passa por manter uma boa postura nas atividades de vida diária (AVDs), fortalecer a musculatura periarticular com exercícios adequados e evitar movimentos repetitivos mal orientados (tanto em contexto profissional como desportivo). A prática regular de atividade física, com foco na mobilidade e no equilíbrio muscular, pode reduzir substancialmente o risco de lesões.
Preside à Sociedade Portuguesa do Ombro e Cotovelo (SPOC). Qual é o papel desta entidade?
A SPOC promove a formação contínua e a investigação nesta área específica da Ortopedia. O congresso luso-brasileiro que organizámos em Braga foi um exemplo disso: reuniu especialistas dos dois lados do Atlântico e fortaleceu os laços científicos e humanos entre as nossas comunidades.
A SPOC tem um papel essencial na formação contínua dos ortopedistas e na promoção da investigação científica nesta área específica da Ortopedia. Em Braga, organizámos nos dias 15 e 16 de Maio um congresso luso-brasileiro que juntou os maiores especialistas da área e contou com mais de 300 participantes. Para além disso, organizámos também, no dia 14 de Maio, na nossa Escola de Medicina da Universidade do Minho, um curso prático de artroscopia e artroplastia do ombro. Este curso teve a particularidade de ter sido organizado pelas Sociedades portuguesa e brasileira e contou com elementos dos 2 países no seu corpo docente. Foi um momento de partilha científica, aprendizagem e de reforço da comunidade atlântica de lingua portuguesa desta área do saber — um verdadeiro sucesso!
Vivemos uma revolução imparável na Ortopedia e na Medicina em geral. A medicina regenerativa, a robótica, inteligência artificial, a realidade aumentada e as próteses personalizadas são ferramentas de apoio ao médico que estão a transformar por completo a forma como diagnosticamos e tratamos os nossos doentes.
Foi distinguido com o Prémio de Melhor Trabalho de Investigação em Ciência Básica. Qual foi o seu contributo?
O prémio distinguiu um projeto inovador sobre o uso do secretoma de células estaminais para regeneração da coifa dos rotadores — um estudo que contribuiu para uma nova abordagem biológicae menos invasiva no tratamento das roturas massivas. Receber esse reconhecimento, de um trabalho que desenvolvi durante o meu doutoramento, foi, além de um orgulho, um incentivo para continuar a investir na ciência como ferramenta de progresso clínico e de melhoria dos cuidados de saúde dos nossos doentes.
A inovação está a mudar a medicina ortopédica?
Vivemos uma revolução imparável na Ortopedia e na Medicina em geral. A medicina regenerativa, a robótica, inteligência artificial, a realidade aumentada e as próteses personalizadas são ferramentas de apoio ao médico que estão a transformar por completo a forma como diagnosticamos e tratamos os nossos doentes. A ligação entre investigação e prática clínica permite-nos contribuir para oferecer soluções mais eficazes, menos invasivas e com recuperações mais rápidas.
Vive em Vila do Conde desde 2024. Porquê esta escolha?
Vila do Conde é uma cidade com alma. Aqui encontrei paz, qualidade de vida e um lugar perfeito para a minha família crescer. Mas há algo mais profundo: sou oriundo de Chaves, em Trás-os-Montes, e revejo em Vila do Conde muitas das qualidades que marcaram a minha infância e juventude — uma forte ligação à terra, às tradições, à cultura local e ao orgulho de pertença. Gosto do facto de as pessoas aqui dizerem com firmeza que são “de Vila do Conde”, como nós, transmontanos, dizemos com orgulho que somos “de Chaves”, em vez de recorrer à cidade grande mais próxima como referência. Essa identidade genuína, que se sente nas ruas, na forma de viver e nas relações, conquistou-me desde o primeiro dia. Sinto-me, sinceramente, em casa!!