Presidente da Direção do Clube Desportivo José Régio .
O Clube Desportivo José Régio tem vindo a afirmar-se como uma referência no basquetebol em Vila do Conde. Com 28 anos de existência, passou recentemente por um processo de estruturação que lhe conferiu uma direção formal, novos estatutos e uma estratégia bem definida para o futuro. À frente deste projeto está Mafalda Oliveira, Presidente da Direção, que tem liderado um trabalho de crescimento sustentado e aposta na formação de qualidade.
Nesta entrevista, Mafalda Oliveira fala sobre os desafios da gestão de um clube sem fins lucrativos, o impacto do projeto desportivo na comunidade, as ambições das equipas seniores e a importância do envolvimento dos pais e da sociedade no associativismo desportivo.
O Clube Desportivo José Régio tem uma longa história, mas só, em 2022, oficializou a sua estrutura diretiva. Como foi esse processo de transição?
O Clube Desportivo José Régio existe há 28 anos, mas, até recentemente, funcionava apenas com uma comissão administrativa. Em 2022, após um esforço conjunto de alguns pais, foram criados os estatutos e angariados sócios, permitindo a realização das primeiras eleições na história do clube. Foi nesse ato eleitoral que assumi a presidência, iniciando um novo ciclo para a instituição. Este processo representou um verdadeiro renascimento para o clube. Apesar de ter um passado desportivo sólido e de sempre ter conseguido atrair muitas crianças para o basquetebol desde 1997, a ausência de uma direção formal e de uma estrutura organizada levou a um certo enfraquecimento ao longo dos anos. Com a criação de uma direção constituída e o envolvimento da comunidade, conseguimos dar um passo fundamental para a consolidação do clube. No entanto, por ser uma estrutura recente, em ainda não conseguimos, por exemplo, obter a candidatura a Estatuto de Utilidade Pública, um objetivo que esperamos alcançar no futuro próximo.
Queremos consolidar o Clube Desportivo José Régio e fortalecer o basquetebol em Vila do Conde” – Mafalda Oliveira
Qual é o maior desafio de gerir a formação num clube sem fins lucrativos?
Os clubes têm um papel muito importante na comunidade e na formação de jovens, e nós queremos que o clube seja procurado pelos nossos critérios pedagógicos e qualidade técnica a nível formativo. Eu acredito que o clube só pode ter sustentabilidade em termos desportivo e financeiro se construirmos uma base forte e alargada na formação. Este é um trabalho muito silencioso, um grande trabalho de bastidores. Contratar os melhores técnicos para a formação é um dos nossos pilares, e é de facto, um grande investimento e um grande desafio.
Em 2022, o clube tinha 90 atletas. Atualmente, tem 200 distribuídos por 13 equipas. Uma diferença significativa em pouco tempo.
Em 2022, tomamos posse em outubro, e a época já estava a decorrer, e as equipas seniores não estavam em competição. Nessa época iniciamos uma estratégia “poderosa” relativamente a captação de atletas para a formação e na época seguinte 23/24 conseguimos recuperar a competição das equipas seniores.
Hoje, o que nos orgulha e dá alento é o nosso projeto formativo, mesmo que ainda em construção, e com muita margem de progressão, é procurado por muitos jovens e respetivas famílias, não só de Vila do Conde e não só pelo palmarés desportivo, mas pelos princípios formativos e educativos, que é o mais importante, sendo que o resto virá a seu tempo.
Hoje contamos com 200 atletas, perto de 25 técnicos, entre treinadores, monitores, fisioterapeutas e preparadores físicos que trabalham com toda a estrutura.
E quanto a resultados desportivos, qual o desempenho atual?
No ano passado, a equipa feminina esteve mais a perto da subida de divisão, mas este ano ambas as equipas estão na segunda fase e com possibilidades reais de promoção. Atualmente, estamos na CN2 e qualquer uma das equipas pode subir à CN1 pela primeira vez. No feminino, lideramos o grupo, enquanto no masculino ocupamos a terceira posição. Tudo está ainda em aberto.
Chegar aqui é um processo que exigiu um grande investimento. Contamos com jogadores estrangeiros e uma equipa técnica de excelência.
A nível formativo, os resultados também são visíveis. No ano passado, estivemos na Final 6 de Sub-14 Masculino, da 2ª Divisão. Este ano, reforçamos a nossa presença no Campeonato Interassociações, com as equipas Sub-18 e Sub-16 masculinas.
Com a evolução do nível competitivo e da qualidade de atletas e treinadores, alcançamos alguns objetivos que são igualmente muito importantes a par dos resultados desportivos, entre eles, conseguimos, que um atleta tenha siso chamado à seleção nacional sénior de Cabo Verde, e vários foram chamados às seleções distritais.
Ao nível de treinadores, temos uma treinadora na Seleção Nacional de sub 18 Feminina, e outra na seleção ABP.
E como conseguem captar verbas para estes investimentos? Quais são os apoios que têm?
Eu costumo brincar e dizer que é “o milagre das notas”, mas na verdade não é. (risos) Dependemos do apoio da Câmara Municipal, mas tivemos de ir além e desafiar-nos, procurando formas dinâmicas e criativas de angariar fundos. Para isso, marcamos presença em eventos sociais, realizamos diversas iniciativas, para garantir receitas adicionais e submetemos aa candidatura de projetos governativos, nomeadamente do IPDJ.
A captação de patrocinadores continua a ser um desafio, especialmente porque ainda não temos o estatuto de utilidade pública, o que dificulta o acesso a apoios via mecenato.
Felizmente, as contas estão equilibradas, e um dos fatores que nos permite atrair bons técnicos é a nossa seriedade e justiça no cumprimento dos pagamentos. Isso cria um ambiente de confiança e faz com que as pessoas gostem de trabalhar connosco.
Quais são as principais dificuldades que sentem?
Dependemos de espaços externos para treinar, e alguns deles implicam custos para o clube, como é o caso dos pavilhões escolares. Atualmente, apenas temos acesso gratuito ao Pavilhão Municipal de Desportos. Esta é uma das nossas grandes dificuldades, algo que já partilhei com a autarquia. Treinar em escolas representa um encargo financeiro significativo, especialmente porque temos treze equipas constantemente a circular, a treinar e a competir.
A Câmara Municipal está a desenvolver um Plano Estratégico Desportivo, e considero essa iniciativa essencial. No nosso caso, estamos em crescimento, e a falta de espaços adequados torna o processo ainda mais difícil. Para evoluir, precisamos de treinar mais e melhor, mas isso só é possível com infraestruturas maiores e mais adequadas. Muitas vezes, somos obrigados a treinar com campos atravessados, o que compromete a qualidade do trabalho.
Além desta questão, ainda enfrentamos outros encargos financeiros, como inscrições, serviços de arbitragem e seguros desportivos, que se somam às despesas diárias do clube.
Que outros projetos têm desenvolvido?
Este ano, ganhamos um projeto do IPDJ que é “Desporto para Todos”. Vamos a várias escolas do concelho de Vila do Conde e proporcionamos aulas de basquetebol gratuitas aos alunos. Estes últimos dois anos, abrangemos cerca de 300 crianças, do 3º e 4º ano de escolaridade.
Ganhámos também um projeto “Basquetebol 3×3” da Federação Portuguesa de Basquetebol, dedicado ao minibasquete, que iremos implementar este ano. Numa primeira fase, será aplicado no Agrupamento de Escolas Frei João, com o objetivo de, posteriormente, ser alargado a outros agrupamentos. O projeto inclui a dinamização de um torneio entre turmas, proporcionando às crianças de Vila do Conde a oportunidade de contactar com a modalidade.
Neste sentido, tenho também em mente outro projeto e já lancei o desafio à Câmara Municipal de Vila do Conde. A ideia seria proporcionar a todas as crianças a oportunidade de experimentar diversas modalidades desportivas, durante o período letivo, utilizando a escola como principal veículo promotor.
Os clubes deveriam desempenhar um papel ativo nesse processo, colaborando na divulgação e promoção do desporto junto dos mais jovens. Afinal, se a autarquia apoia os clubes, estes também devem contribuir para uma educação mais igualitária e para a criação de oportunidades equitativas a nível motor e desportivo.
Também ao nível da responsabilidade social, quando chegamos abrimos uma via com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, permitindo que crianças sinalizadas pela CPCJ praticassem basquetebol no nosso clube de forma gratuita e entrado em competição como todas as outras, utilizando a prática desportiva, como veículo promotor do bem-estar e da autoconfiança. Também a este nível, promovemos um banco de material usado em bom estado, apelando que o deixem para outros que necessitam, e silenciosamente, possam usufruir dele.
Que iniciativas e eventos desportivos organizam na cidade de Vila do Conde?
Durante a primavera e o verão, costumamos dinamizar atividades em alguns espaços públicos, onde existem tabelas de basquetebol, promovendo a proximidade dos jovens à modalidade, e é uma forma de clube se dar a conhecer.
Ao nível do 3×3, no ano passado reeditamos o torneio histórico 3×3 24 horas no parque do Castelo com cerca de 300 participantes e, normalmente recebemos uma etapa do circuito nacional de 3×3.da FPB
Em janeiro deste ano organizámos a final 6 da ABP, de sub 16 Maculino no Pavilhão de Desportos, algo que considero essencial também no trabalho do clube, trazer eventos de impacto para a cidade. A realização de competições desta dimensão não só inspira os jovens locais, como também reforça a nossa posição no panorama nacional do basquetebol. O evento trouxe muita gente a Vila do Conde e proporcionou um elevado nível competitivo. A organização ficou extremamente satisfeita com o apoio da Autarquia e do Clube Desportivo José Régio.
Além disso, vamos repetir o Torneio “De Pequenino”, um evento dedicado às crianças Sub-12. Este ano, contaremos com equipas de Lisboa, de Espanha e de outras localidades. É um torneio muito especial, que acontecerá nos dias 26 e 27 de abril.
Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar aos pais e à comunidade sobre a importância do envolvimento nas associações e clubes?
Gostaria de ver todos os pais e educadores a desempenharem um papel mais ativo na sociedade, participando ativamente na vida das associações e dos clubes. É essa a mensagem que deixo para todas as modalidades e para todos os clubes, porque acredito que todos nós temos uma responsabilidade social, especialmente na instituição que forma os nossos filhos, tornando-os seres humanos mais fortes e completos. Os clubes, as suas estruturas e todos aqueles que dedicam o seu tempo a proporcionar atividades desportivas às crianças e jovens merecem o reconhecimento dos pais. Muitas vezes, não paramos para refletir sobre isso, mas todas inúmeras horas que os nossos filhos passam nesses ambientes de treino e competitivo são fundamentais para a sua felicidade, para a criação de laços de amizade e para o seu bem-estar físico e emocional.
O associativismo sobrevive graças ao trabalho voluntário dos seus dirigentes, e é essencial que mais pessoas se envolvam. Com um maior número de voluntários, a gestão dos clubes e associações seria muito mais fácil para todos.