15 de Outubro, 2025 05:09

Vítor Costa numa entrevista única

JVCEntrevista1 semana atrás

Sobre o entrevistado

Nesta entrevista Vítor Costa fala de si e conta tudo. Explica coisas que nunca tinha dito em público.

Mostra quem é e o que quer com palavras claras e simples. Uma entrevista que vai além da política, porque revela o ser humano, os seus pensamentos e emoções que dão suporte às decisões e às ações.

Uma entrevista em que fala da infância, da sua profissão de professor e da sua ação como autarca.  

Vítor Costa nasceu na cidade de Vila do Conde. Para si ser natural de Vila do Conde é uma questão de nascimento ou bem mais que isso?
De facto, ser vilacondense é muito mais do que uma questão de origem. Nasci em Vila do Conde, toda a minha vida vivi aqui, apesar do meu local de trabalho não ter sido aqui. A minha família também é de Vila do Conde.

No entanto, acredito que ser vilacondense é um estado de alma. Hoje, há muitos vilacondenses que não nasceram cá, mas que escolheram Vila do Conde para viver. Apaixonaram-se por esta Terra e também eles são vilacondenses. O que de facto nos une é o amor a esta nossa Terra, o amor a Vila do Conde.

Teve uma infância semelhante aos vilacondenses da sua geração ou foi diferente?
Tive uma infância – e também uma juventude, mas especialmente uma infância –marcada por tempos muito difíceis.

A minha família sempre foi muito humilde: os meus pais sempre foram empregados fabris, na fábrica de chocolates “Imperial”; os meus avós trabalhavam na indústria têxtil. Nasci nas Pedreiras, uma zona pobre da cidade, e cresci com as mesmas dificuldades da maioria das famílias vilacondenses dessa altura que tinha de lutar pela vida.

Os meus pais trabalhavam muito e nós, crianças, passávamos grande parte do tempo a brincar na rua.

Apesar das dificuldades, vivíamos momentos de felicidade genuína. A minha primeira escola foi a Escola dos Sininhos. Lembro-me bem de ir sozinho para a escola, algo que hoje parece impensável, mas que era habitual naquela altura. Havia turmas separadas para meninos e meninas, só mais tarde, na terceira classe, passaram a haver as turmas mistas. A verdade é que essas experiências nos ensinaram desde cedo a compreender o valor da vida, o esforço e a importância de conquistar cada coisa passo-a-passo.

Crescemos a dar menos valor aos bens materiais e mais importância às relações humanas, às amizades e à felicidade que partilhávamos uns com os outros. Sermos felizes é muito mais importante do que qualquer bem material. Brincávamos muito na rua, por toda a cidade: nas Pedreiras, no Bairro Alto, na Praça Velha, onde moravam os meus avós maternos, no Terreiro, na Bajoca ou na Júlio Graça. Íamos a pé até às Caxinas, que era um “esticão”, mas era o nosso lugar de praia e reencontro com amigos no verão.

Vinha muita gente de Guimarães, Fafe. Foi assim que aprendi que Vila do Conde não se resumia à rua onde nasci, mas que o mundo era feito de horizontes. Depois, consegui terminar o ensino secundário e, mais tarde, ingressar na faculdade. Foi um passo desafiante, porque os meus pais tinham poucos recursos. Trabalhava a dar explicações para poder pagar os estudos no Porto. Muitas vezes o dinheiro chegava apenas para o passe do comboio e para o almoço na cantina; quando era preciso tirar fotocópias, ficava-se sem almoço. Mas a resiliência foi maior e continuei sempre a lutar. A infância ensinou-me a ver para além do imediato. Primeiro percebi que não existia apenas a minha rua. Depois, que havia muito mais para conhecer em Vila do Conde. Mais tarde, compreendi que não existia apenas a minha cidade, nem apenas o meu país. O mundo era vasto, cheio de oportunidades e descobertas. Com perseverança, consegui terminar a licenciatura, fazer um mestrado, iniciar o doutoramento e percorrer o mundo inteiro. Acredito que isso tenha advindo da infância, da dureza da infância, mas também da descoberta e do espanto.

Há algum episódio, em particular, que relembre da infância que nos queira contar?
São muitas as recordações que trago da infância. Todas, de alguma forma, se traduziram em momentos de grande dificuldade, mas também de enorme felicidade. A memória mais vívida que guardo, por incrível que pareça, foi o nascimento do meu irmão mais novo. Ele chegou “fora de tempo”, digamos assim. Os outros irmãos eram praticamente da minha idade, crescemos juntos como uma família unida.

De repente, apareceu alguém diferente, um ser novo na família. Esse momento marcou a minha infância.

Outro marco importante foi o meu primeiro dia de escola. Recordo-me muito bem. Naquela altura, havia sempre uma contínua que cuidava dos meninos: a dona Mercedes (recorda com saudade), nunca me esqueci do nome dela. Pegou em mim e colocou-me logo numa carteira da frente, onde permaneci durante quatro anos. Tenho presente até hoje a imagem desse dia, lembro-me da minha carteira e do meu parceiro de carteira.


Lembro-me também muito bem dos meus amigos do Rio Ave, que gostavam sempre de jogar futebol. Quando era criança, na escola, raramente havia bola — talvez por isso é que gostávamos tanto de jogar.

Acabei por entrar nas camadas jovens do Rio Ave e todas as experiências que vivi no clube foram muito marcantes. Ainda hoje tenho amigos dessa altura. Aliás, há pouco tempo, já como presidente da Câmara, encontrei o Eduardo, que tinha sido o nosso guarda-redes. Conversámos sobre aqueles tempos e também sobre os assuntos que hoje fazem parte das nossas vidas. Essas memórias são muito especiais e enchem-me de orgulho. Até porque a minha ligação ao Rio Ave vem de família. O meu pai jogou no clube durante muitos anos, quando ainda competia nas distritais, antes de subir à terceira divisão. Mais tarde, foi também diretor e treinador do Rio Ave, sempre muito ligado ao futebol. Ainda hoje encontro pessoas que ao me reconhecerem dizem: “É o filho do Mister Costa”. E confesso que tenho um grande orgulho em ser filho do Mister Costa. Os meus irmãos também jogaram todos no Rio Ave e agora o meu filho Rafael dá continuidade, vestindo igualmente a camisola do clube. Por isso, posso dizer também que tenho uma família grande, a família rioavista, por quem tenho um carinho muito especial.

Há alguma história de infância que nunca tenha contado?
Considero que as histórias mais marcantes valem para nós. Aquelas que eu guardo com mais carinho são aqueles sábados passados com os meus avós maternos. Enquanto foram vivos, era tradição a família reunir-se todos os sábados. Sempre no mesmo lugar: a Praça Velha. Lá estavam os primos, que cresciam todos juntos, e as tias, sempre com as suas coscuvilhices próprias. Recordo esses tempos de brincadeiras, de partilha, de convivência. Éramos, de facto, uma grande família. Guardo também com muita estima a memória dos meus avôs. Foram exemplos de vida, de princípios e de valores que considero absolutamente fundamentais. O meu avô costumava dizer-me: “Vítor, um homem vale pelo que faz”.

E é verdade, nós valemos aquilo que fazemos. Não por aquilo que achamos que somos. Se calhar não aquilo que os outros acham que somos, mas por aquilo que fazemos. Sempre aprendi a fazê-lo com retidão pelos outros. Foi sempre assim.

O meu avô costumava dizer-me: “Vítor, um homem vale pelo que faz”. E é verdade, nós valemos aquilo que fazemos. (…) Sinto que tenho uma dívida para a com a comunidade.

Que valores entende como fundamentais ainda hoje?
A lealdade, a honestidade e a gratidão. Foi isso que veio muito da minha família e, para mim, são absolutamente fundamentais. Somos uma família de gente honesta e trabalhadora. É assim. Trabalho, trabalho. Tudo o que temos, muito ou pouco – uns têm muito ou mais, outros têm menos – foi sempre conquistado com grande honestidade. Com muito trabalho e com uma grande lealdade. Sempre.

A palavra dada é a palavra honrada. Nunca fugimos disso. A gratidão tem que ver com o facto de percebermos aqueles que nos fazem bem e a ligação que nós criamos a quem nos faz bem. Temos que ser gratos. Temos sempre de devolver aquilo que nos dão. E eu sinto que tenho uma dívida para com a nossa comunidade. Para com a nossa sociedade. Porque eu fui capaz de estudar, fui capaz de fazer, fui para a universidade, fiz o meu doutoramento. O país investiu em mim. A nossa comunidade pagou para isso. Eu tenho que devolver. E foi o que me motivou, há 20 anos atrás, a aceitar um convite na altura para fazer parte de uma lista à Câmara Municipal, foi sentir que precisava de devolver à comunidade e à sociedade aquilo que a sociedade me tinha dado. E continuo assim. Tudo que eu faço é por gratidão.

Tudo que eu faço é para devolver aquilo que me foi dado, enquanto homem, enquanto ser humano. O Estado fez um esforço muito, muito, muito grande para investir em mim e eu agora tenho de colocar essas minhas competências ao serviço de todos. É essa a gratidão de que falo.

Qual o lugar que ocupam, na sua vida, a sua mulher, o seu filho, os seus pais?
Os meus pais hoje, já tem a idade que têm, foram pessoas que trabalharam uma vida inteira. Só viveram para o trabalho. Os meus pais nunca tiveram férias. Os filhos que viam os pais a nunca terem férias de trabalhar, sentem sempre assim um bocadinho, eu não diria culpados, mas um pouco tristes por isso. Mas penso que a felicidade deles foi ver os filhos e os meus irmãos serem pessoas de bem, acima de tudo.

Mas os meus pais hoje estão num lar. Estão felizes. Têm os problemas de saúde que nestas idades também se têm. Eles também pagam isso raramente me veem, especialmente a minha mãe, que tem uma preocupação muito, mas muito grande comigo. Porque está numa fase da vida que há coisas que já não percebe muito bem. Tem uma preocupação muito grande, especialmente quando sou atacado, quando sou difamado. Portanto, tenho um efeito muito grande neles, especialmente na minha mãe.

Porque as pessoas muitas vezes esquecem-se que nós, enquanto servidores públicos, neste caso eu enquanto presidente de Câmara, o presidente de Câmara também é um homem, é um ser humano, que tem família e quando sou difamado, quando sou caluniado, quando sou acusado de coisas que nunca fiz nem nunca farei, isto tem efeito na família e tem um efeito terrível nos meus pais. De desassossego enorme. Eu digo isto com pena, porque acho que não devíamos chegar em circunstância nenhuma a isto.

Existe um valor que os possa definir? Definir a vossa relação?
Amor puro. É a minha vida, sou eu. É a minha família. É dos meus mais próximos. Aqueles que verdadeiramente amo de forma incondicional, sem pedir coisa nenhuma em troca. Incondicional. É o sentimento mais puro que eu tenho é por eles. Penalizo-me por não o expressar muitas vezes. (revela com emoção)

A ASTROFÍSICA COM PAIXÃO DE VIDA

Estávamos a falar do mundo universitário, seguiu o doutoramento em Astrofísica por alguma razão?
A Astrofísica foi sempre algo que me apaixonou. A minha vida é engraçada nesse aspeto. Quando, há pouco, mencionei o facto de sair da rua, sair da rua e ver que havia outras ruas em Vila do Conde. Depois perceber que havia outras freguesias. Depois a perceber que havia outras cidades. Depois a ver que havia outros países. Vivê-los verdadeiramente, não é de perceção teórica. Depois levantar a cabeça, desde criança gostei de levantar a cabeça e olhar o céu. Perceber que o Universo é uma coisa… Que somos apenas uma parte do Universo. Uma parte pequena. Que o planeta onde vivemos é uma coisa absolutamente minúscula no contexto universal. E perceber que isso tem dois efeitos. Em primeiro, a descoberta e perceber como é que as coisas funcionam. As leis da Física. A Matemática. Digamos, na Astrofísica, que no fundo é a área da Física, da Matemática. Que percebe, enfim, como tudo funciona.

Como o Universo é regido. Os corpos celestes que existem. As galáxias. A infinitude do nosso universo. E depois dá-nos um sentimento grande, e isto é muito importante, além da beleza, da humildade. Nós contamos muito pouco no contexto universal.


Muito mais importante que as respostas são as perguntas e a descoberta e o conhecimento vêm das perguntas. Portanto, sempre me interessou. Foi natural. Eu também escolhi logo esta licenciatura em Física e Matemática aplicada, porque ela estava ligada à astronomia e à astrofísica. E, portanto, o meu mestrado já foi realizado nessas áreas. A matemática aplicada ligada à astronomia e à astrofísica e depois o meu doutoramento é feito, digamos, em matemática aplicada no ramo da astrofísica. Que foi concretizar um sonho de criança. Por isso é que eu digo que tudo aquilo que verdadeiramente sonhei conquistei.

Temos uma vida de concretização de sonhos. A família, a astronomia foram verdadeiros sonhos tornados em realidade, mas apenas alguns.
Muitas coisas acontecem-nos por acaso. Em boa verdade, na minha vida poucas coisas aconteceram por acaso, sempre tive um fio condutor. Persegui sempre os sonhos. Houve depois momentos, mesmo na minha parte académica, sou professor universitário, estive em várias instituições de ensino universitário.

Quando entendi que o departamento ao qual eu fazia parte tinha uma liderança que a mim e a outros colegas mais novos não interessava, porque estava desfasada do tempo, não perdi tempo a queixar-me, não perdi tempo. Assumi uma lista e ganhei as eleições e fui diretor do meu departamento. Porque as mudanças fazem-se assim. Nós não podemos estar sempre na última linha da queixa constante e da crítica constante. Por muito positiva que essa crítica possa ser há um momento em que nós temos de dar um passo em frente. E, portanto, eu deixei de reclamar e avancei para a conquista do departamento.


Todos os cargos que eu ocupei de responsabilidade foram todos cargos eleitos. Acredito muito nisto e disto não saio. O que fui e fiz, ao longo da minha carreira profissional, foi conquistada a pulso. Orgulho-me muito disso.

O que representa para si ser professor?
Ser professor é algo absolutamente extraordinário. Ser professor é ser aluno. É ser eternamente aluno, porque é um processo constante de aprendizagem. Não há nada melhor do que a partilha.


Nós descobrirmos, nós estudarmos, nós aprendermos e depois passamos aos outros a nossa experiência. Mas nunca acreditei na experiência simplesmente passada. Nós temos que dar autonomia, procurei sê-lo enquanto professor, temos que fazer com que os alunos descubram por eles mesmos. Eles devem ser capazes de entender, de criar os processos criativos. Acima de tudo, a criação, a criatividade é aquilo que nos faz verdadeiramente humanos, da procura, da investigação. Durante muitos anos fui investigador, fiz parte muitos anos, ainda faço, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. Já fiz de outros centros de investigação, porque é uma descoberta constante. E depois fazer com que os outros se possam descobrir. Ser professor é isto. Não é debitar um conjunto de sebentas ou de coisas que se aprenderam nos livros. Não é nada disto. É dar ferramentas a cada um dos alunos para que eles possam, por eles próprios, descobrir. Porque tudo aquilo que nós descobrimos, tudo aquilo que percebemos, nunca mais esquecemos. Portanto, ser professor é ser sempre aluno.

VEREADOR E PRESIDENTE OU A PAIXÃO DE SER AUTARCA

Foi vereador durante oito anos, de 2005 a 2013, depois dedicou-se ao ensino universitário. Em 2021 regressa como candidato e é eleito presidente da Câmara. Como explica este processo? Foi tudo planeado ou resultou de decisões momentâneas?
A minha vida também é feita de paixão. Apaixonei-me pela minha mulher. Apaixonei-me por ser autarca. Quando há pouco dizia que há 20 anos atrás, quando aceitei o desafio que me lançaram para fazer parte de uma lista, saí por completo daquilo que fazia. Nunca tinha tido contacto com nenhuma estrutura política, nenhuma estrutura partidária, embora desde muito novo fazia parte da associação de estudantes e todos esses percursos. Formalmente nunca o tinha sido. Experimentei e apaixonei-me. Comecei a perceber que ser autarca ajudava a concretizar muito daquilo que eu sentia. E poder trabalhar para os outros, e poder, na minha terra, contribuir para o desenvolvimento, para criar melhores condições para todos, foi crescendo em mim esta vontade grande de continuar a fazê-lo. Confesso que também gosto da luta. Gosto muito de uma boa luta. Gosto do combate, do bom combate. Gosto de trabalhar e de travar um bom combate. Isso foi crescendo em mim. Fui 8 anos vereador e fui feliz enquanto vereador. Aprendi imenso.

Mas podemos dizer que isto foi planeado o chegarmos até aqui ou foi feito decisões momentâneas?
Eu não tenho decisões momentâneas. Tenho uma estratégia. Tenho uma vontade. Vou dar um exemplo. Há momentos em que temos de tomar decisões, mas essas, enfim, são aquelas do dia-a-dia, em que há um impulso, há uma inteligência emocional que funciona. Mas naquilo que foi construído, por exemplo, ao longo dos últimos quatro anos, baseou-se naquilo que são os pilares de uma comunidade: a educação, a saúde, a segurança, a justiça, a coesão social, a coesão territorial, a justiça social. Portanto, tudo isto, toda a estratégia foi montada com estes pilares, que são os pilares de uma comunidade.

As decisões estruturais que tomei e aquilo que foi implementado de ações verdadeiramente estruturais e estruturantes foram todas elas pensadas. Eu não sirvo, eu não trabalho, eu não defino ao som de música nenhuma e muito menos ao sabor do vento. Eu não sou um taticista de forma nenhuma, prefiro sempre seguir as estratégias. Sempre preferi a estratégia à tática. Por uma razão muito simples, não quero o poder pelo poder. Não quero ficar no poder para sempre. O poder a mim não me satisfaz. O poder é apenas um instrumento de se poder fazer e trabalhar pelos outros.

As coisas comigo não acontecem por acaso, luto por elas. É por isso que quando eu, perdoem-me a expressão, meto a cabeça nalguma coisa, não saio. É até ao fim. Porque faz parte de uma vontade grande, firme. É assim que eu entendo. É assim que eu trabalho.

SER PRESIDENTE É UMA HONRA E UMA RESPONSABILIDADE MUITO GRANDE

Hoje considera-se mais professor ou mais presidente da Câmara?
É uma boa pergunta! É absolutamente indissociável a nossa experiência pessoal e profissional. Ser presidente de Câmara é uma honra que os vilacondenses me deram. É uma responsabilidade muito grande, mas mesmo muito grande. Repito, é uma missão. Ser professor também é uma missão. Ser presidente de Câmara é uma missão. Portanto, nem mais professor, nem menos professor. Nem mais presidente de Câmara. Gosto mesmo muito de servir e ser presidente de Câmara é uma oportunidade.

Se me disserem “é a cadeira de sonho”. Eu não tenho essas coisas de cadeira de sonho. Eu se pudesse servir ainda melhor os vilacondenses de outra forma, eu fá-lo-ia. Não hesitava. Para mim, ser presidente de Câmara, não tem a ver com honrarias, nem tem a ver com vaidades. Tem a ver com uma oportunidade única de servir os vilacondenses. E é sempre dessa forma, de partilha, de ouvir. Eu, quando era professor, sempre ouvi os meus alunos. Os alunos têm experiências. As pessoas têm experiências. As pessoas têm contributos têm que ser ouvidas. Eu continuo a fazê-lo enquanto presidente de Câmara.

Orgulho-me muito, mas muito, neste mandato de termos paz social. Acho que uma das grandes conquistas, dos grandes méritos que tivemos foi a paz social. Hoje, todas as associações e todas as instituições se dão bem. Não era assim e agora é. Nós temos 250 associações e instituições em Vila do Conde, temos mais hoje, e reuni com todas e com algumas delas, a maior parte, várias vezes. A Câmara é isto, fazer estas pontes. Hoje, as nossas associações e instituições contribuem, de todos os níveis na área social, cultural, desportiva, a recreativa, a todos os níveis. Hoje participam na vida da comunidade. Têm um papel tão importante, mas mesmo tão importante. E creio que isto foi conseguido por nós. Com a minha liderança, há que dizê-lo.

Porque acredito muito num princípio, que é um princípio muito interessante, eu creio que foi o Jacques Delors que começou ou pelo menos o tornou mais europeu na sua vontade grande europeia, que é o princípio da subsidiariedade. Deve fazer quem está mais próximo e faz melhor. E muitas e muitas vezes, as nossas associações e as nossas instituições substituem-se ao Estado. É aquele que é o papel até da Câmara. Portanto, crio condições para que eles façam e estabelecemos parcerias. Há grandes exemplos de parcerias. Conseguimos na habitação. Conseguimos na cultura. Conseguimos no desporto. Nada disto acontece por acaso. Significa que nós, Câmara Municipal, criamos condições para quem trabalha nas nossas instituições, nas nossas associações, possa fazer também aquilo que gosta e que faz bem. E é assim que vou continuar a fazer.

Duvido, mas duvido mesmo, que haja um vilacondense mais insatisfeito do que eu. E, portanto, a minha angústia e o meu desgosto é não ter feito tudo de forma perfeita, mas não consegui.

Nestes quatro anos, enquanto presidente, qual considera ter sido o maior feito e qual o maior desgosto?
O maior feito foi termos conseguido perceber, desde o início e trabalhar nesse sentido, que o foco são as pessoas. Nós temos um projeto humanista. As pessoas estão no centro de todas as nossas decisões e termos conseguido que todas as nossas políticas, todas as nossas ações, toda a nossa estratégia e das nossas instituições, sejam focadas nas pessoas, foi a maior obra. Foi uma grande, uma grande obra.

Depois temos outras materiais e imateriais. Temos o Centro de Estudos Judiciários. Temos as condições da esquadra da PSP. Temos feito o maior investimento de sempre nas nossas freguesias, nas nossas associações. Temos conquistado 40 milhões de fundos comunitários. Temos investido 25 milhões de euros nas escolas. Temos, na área metropolitana, o maior número de programas para os nossos séniores, para as pessoas que vivem em solidão. Temos construído um centro de saúde para 14 mil utentes que esperavam à chuva e ao frio ali na nossa zona das Caxinas e da Poça da Barca. Temos a fazer a requalificação da parte norte da nossa cidade. Temos espalhado pelas nossas freguesias investimento.

Temos colaborado com as nossas Juntas de Freguesia. Isso vem tudo a seguir, são grandes conquistas das quais nos orgulhamos muito. É verdade, mas a maior das conquistas foi a obra. A obra maior é sempre nas pessoas e as pessoas estão sempre no centro. Isto conseguimos, não nos desviamos um milímetro.

Isso foi uma grande vitória. O meu maior desgosto foi não ter conseguido fazer tudo. Não ter sido perfeito, porque houve coisas que nós não conseguimos fazer. Eu sou o eterno insatisfeito. Duvido, mas duvido mesmo, que haja um vilacondense mais insatisfeito do que eu. E, portanto, a minha angústia e o meu desgosto é não ter feito tudo de forma perfeita, mas não consegui.

Como é que avalia o resultado destes quatro anos?
De forma muito positiva, confesso. Sem falsas modéstias, acho que tivemos um mandato muito bom. Onde, repito, nem tudo foi perfeito e onde há muito por fazer e é aí que eu estou neste momento focado, mas avalio de forma muito positiva este nosso mandato. Creio que criamos uma relação de confiança grande com os vilacondenses e é por isso que eu acredito que no dia 12 de outubro os vilacondenses nos vão redobrar essa confiança. Creio que estabelecemos aqui esta relação e, acima de tudo, porque isto para mim é muito importante, é trazer especialmente nestes tempos que vão correndo, apesar de serem negativos, o otimismo, porque Vila do Conde é uma terra de talentos. Nós, enquanto comunidade, quando nos juntamos para fazer as coisas nós conseguimos. Hoje Vila do Conde é reconhecida a nível nacional. Não apenas a nível regional, mas a nível nacional. A quantidade de governantes que vieram neste mandato a Vila do Conde foi por isso mesmo, pelo reconhecimento.

Colocámos Vila do Conde no mapa, que também era um dos nossos compromissos. Mas foi um esforço coletivo. Foi um esforço de todos.

E acima de tudo, temos de ter algo que nos move a todos e o que nos permite criar futuro e querer andar para a frente: a esperança. Acreditar que somos capazes de fazer ainda melhor e vamos fazer. E, portanto, o que me move a mim, neste momento, é a esperança.

DA AVALIAÇÃO AO COMPROMISSO COMO FUTURO

Foi esse sentimento de não ter alcançado tudo aquilo que pretendia que o motivou a candidatar-se novamente?
Claro que aquilo que nós não conseguimos fazer, ou que não fizemos tão bem é sempre um motivo para querermos continuar para fazermos o que ainda não foi feito. Mas, acima de tudo, recandidatar-me resulta do facto de entendermos que somos capazes de fazer ainda mais e melhor e que temos espaço para o fazer. Que temos as equipas certas, que temos as pessoas certas, que temos competência e que os vilacondenses merecem ainda mais.

O que me move é aquilo que nós podemos ainda fazer mais, melhor. Temos mais projetos, temos mais ideias. Vila do Conde há de ser mesmo, e não é apenas uma frase feita, a melhor terra para viver, para estudar, para trabalhar, para visitar e para investir. É assim que tem que ser. Acredito nisto.

O que é que pode garantir para os próximos quatro anos?
Os vilacondenses conhecem-me. Além desta vontade grande de assumir os nossos compromissos, como o fizemos há 4 anos, eu não mudei nada na minha vida. Continuo a morar no meu apartamento, um T2, sem elevador. Tenho o mesmo carro, há mais de dez anos. Venho a pé para o trabalho. Venho a pé para a Câmara. Venho a pé para aquilo que gosto de fazer. Continuo a percorrer as mesmas ruas. Quando posso, continuo a estar nos mesmos locais com a minha família, a levar o meu filho à escola, a ir buscá-lo quando posso.

O que posso dizer aos vilacondenses é que vou continuar a fazer exatamente a mesma coisa que é dar tudo o que tenho. A trabalhar todos, mas mesmo todos os dias para todos os vilacondenses. É isso que eu tenho para lhes dar. Com a minha competência. Com a minha vontade. Com a minha equipa. Acima de tudo, este trabalho incansável, 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem parar. É isto que eu tenho para dar de mim. O melhor de mim a todos os vilacondenses.

Avalio de forma muito positiva este mandato de 4 anos. Creio que criamos uma relação de confiança grande com os vilacondenses e é por isso que eu acredito que no dia 12 de outubro os vilacondenses nos vão redobrar essa confiança.

Pedia-lhe respostas para as seguintes questões? O que mais gosta de comer?
Essa é uma pergunta muitíssimo difícil, porque sou um bom garfo. Não querendo não responder à pergunta, bem antes pelo contrário, eu tenho um grupo de amigos de quem gosto muito que há quase duas décadas se juntam, todos os fins-de-semana para ir almoçar a vários locais, nomeadamente, a locais mais típicos. Hoje não o faço tantas vezes quanto gostaria, mas sempre que posso, não falho. Gosto mesmo muito de comer, de estar à mesa. Eu tenho o culto à mesa. Aprendi com a minha família e continuo a fazê-lo. Eu gosto da boa comida portuguesa. Gosto de uma boa feijoada, da mesma forma que gosto de um bom cozido, de um bom cabrito. É o que eu gosto. Um bom peixe, que nós temos aqui em Vila do Conde. Às vezes perguntam-me se não me canso de comer robalo e sardinhas. Não, não me canso de comer robalo e sardinhas.

O que é que mais admira nos vilacondenses?
O que mais admiro nos vilacondenses é a identidade. É difícil ou praticamente impossível encontrar um vilacondense que não goste de Vila do Conde, é isso que eu mais admiro.

Qual o livro de que mais gostou?
Li tantos… Dos que me marcaram tenho vários. Tenho “Cem Anos de Solidão”, do Gabriel García Márquez. Tenho “Ulisses”, do James Joyce. “As Vinhas da Ira”, de Steinbeck. Acabei por ler os clássicos. Eu acho que li quase tudo do Eça de Queiroz. Sempre gostei de Mário Sá Carneiro.

Qual a música de que mais gostou?
Sou muito eclético. Tanto gosto de música. Eu digo, é verdade, tenho que o dizer, sempre gostei muito de Bach. Isto de dizer que gosto muito de Bach vão pensar que toda a gente gosta de Bach, mas a verdade é que eu gosto muito de Bach, especialmente quando é interpretado pelo Glenn Gould. Da mesma forma que gosto hoje de música em Indie. Não lhe consigo dizer que música mais me marcou, porque, de facto, os meus gostos são muito ecléticos. Nunca fui de mainstream, confesso. Digamos, aquelas músicas que toda a gente sabe cantarolar, eu tenho de confessar que não sei.

Qual é o valor da palavra amor?
Para mim amor é tudo. É tudo! Amor é aquilo que nos completa. É aquilo que nós somos. Eu sinto-me humano porque amo. É o universo conhecido.

Qual é o valor da palavra autenticidade?
A autenticidade é a verdade. Ser autêntico é ser verdadeiro. Eu prezo muito a verdade. Este foi um dos valores que foram incutidos pela minha família: a verdade. Custe o custar. A verdade quando dói, a verdade quando não dói. Mas sempre, acima de tudo, a verdade. É autenticidade, é ser verdadeiro.

Qual é o valor da palavra solidariedade?
Solidariedade é o próximo, é amar o próximo. Aprendi isto na catequese e acredito profundamente nisso. Solidariedade é amar o próximo.

Qual é o valor da palavra Rio Ave?
É o clube de eleição. Que ninguém me leve a mal. (revela com sorriso)

Qual é o valor da palavra tapete de flores?
Ah! Tapete de flores, é beleza. É beleza pura. Uma manifestação de Vila do Conde, porque Vila do Conde é bela e aquilo que é belo, que é intangível, nos tapetes de flores torna-se realidade.

Além de ser um esforço coletivo, é um momento comunitário verdadeiramente extraordinário. É beleza.

É uma manifestação grande de ser vilacondense.

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